Não faço receitas para serem seguidas, faço
receitas simplesmente para levar as pessoas para a cozinha e prepararem o que
quiserem!
É incrível, mas até os 25 a 26 anos
de idade eu não cozinhava absolutamente nada! Pelo contrário, sequer ovo frito
eu fazia. Muitos leitores questionam de onde veio este conhecimento e paixão
pela cozinha e se impressionam quando repito os dizeres acima. Tal envolvimento
iniciou lá no final da década de noventa e início da seguinte, onde eu, ávido
por buscar qualificação profissional, matriculei-me na ESPM - Escola Superior
de Propaganda e Marketing – em Porto Alegre, no pós-graduação e logo depois MBA
em Marketing. Durante mais de dois anos todos os finais de semana eu rumava a
capital já na sexta à tardinha e retornava no sábado. Cansado destas idas e
vindas acabei alugando um apartamento de um dormitório e esticava este retorno
para segunda-feira de madrugada.
Queijo coalho empanado ao molho de goiaba |
Duo de risotos com cogumelo portobello, pinólis e crispis de parma |
O apartamento localizava-se lá depois da PUC,
entre a Avenida Ipiranga e a Bento Gonçalves, próximo da Carris e bem defronte
o Carrefour, supermercado da rede francesa disseminada pelo mundo todo. E foi
na pequena cozinha deste apartamento que iniciei as lidas de forno e fogão,
afinal, estudar, morar e comer em Porto Alegre numa segunda estrutura não era
barato e percebi que poderia diminuir o orçamento no quesito “comer” deste
tripé.
Sticks de suíno com purê de banana em cama de abobrinha |
Risoto de shitake com carré de cordeiro |
Lembro que o primeiro prato que ensaiei fazer foi um filé de peixe
merluza na chapa temperado com uma infinidade de temperos – afinal, a antiga
moradora que devia ter gosto pela cozinha deixou uma série de temperos
desidratados nas gavetas e eu - iniciante - usei um pouco de tudo naquele
preparo! Além de ter usado muito, mas muito sal também... Alguns anos depois
descobri que a culinária é igual a moda, onde rege a máxima de que “o pouco é
muito”, ou seja, a elegância está na sobriedade não na poluição visual!
Infelizmente todo o preparo foi para o lixo, restou-me apenas ligar para a tele
entrega do cachorro do Rosário e pedir um lanche para acalentar aquela decepção
gastronômica.
Naqueles turvos dias seguintes passei a achar que os programas de
TV com receitas - que estavam recém engatinhando - capitaneados pelo chef Jamie
Oliver fossem mera encenação e engodo, pois não poderia ter alguém que
realmente soubesse criar e preparar um prato que fosse comestível ora
bolas! Mas não me abati, comecei a
prestar atenção no chef londrino e suas unhas sempre sujas (!), comprei livros,
provei muitos temperos, testei preparos e uns dois anos depois a curva virou e
comecei a ter mais acertos que erros nas elaborações. Com uma criatividade
nata, uma curiosidade quase juvenil e uma força de vontade e disciplina ímpares
os pratos por mim desenvolvidos começaram a ficar cada vez mais expressivos,
saborosos e apresentáveis, como se a varinha de condão do mago Merlin estivesse
a minha disposição para, de repente, transformar meia dúzia de ingredientes num
prato de restaurante estrelado.
Steak tartare de salmão e caviar ao molho tarê |
Chips de batata com camarão e patê de palmito |
E esta viagem pelo mundo dos aromas e sabores
não parou mais, rendeu dezenas de eventos, jantares, apresentações, concursos e
premiações mas o principal motivo que ainda me impulsiona quase que
obstinadamente na melhoria constante é perceber o sorriso no rosto daqueles que
provam tais criações! São mais de duas mil receitas autorais nestes quase vinte
anos de alquimias gastronômicas! E - quando as pessoas comentam que o ingrediente
A não foi encontrado; que não possuem a panela B; ou que o ponto de cozimento C
é demorado - brinco que não faço receitas para serem seguidas, faço receitas
simplesmente para levar as pessoas para a cozinha e prepararem o que quiserem,
do jeito que entenderem mas com um único fim que é de reunir a quem gostam no
entorno da mesa para degustarem desta grande prova de amor ao outro que é o
cozinhar!
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