sexta-feira, 6 de abril de 2018

Enólogo francês Pascal Marty em Santa Cruz



  
O responsável pela elaboração dos míticos projetos Almaviva e Opus One esteve palestrando na Confraria do Sagu


Santa Cruz do Sul recebeu no último dia 27 de março, uma das maiores personalidades mundiais do mundo do vinho. O enólogo francês Pascal Marty esteve no encontro da Confraria do Sagu – confraria especializada na análise técnica de vinhos – e presenteou a todos contando a sua história e de como desenvolveu os míticos projetos dos vinhos Almaviva e Opus One e de sua presença como consultor na revitalização de imagem e produtos da Vinícola Peterlongo em Garibaldi na Serra Gaúcha. Durante mais de 4 horas explanou sobre variados temas – de cultivo a parte comercial de vinhos – transcorrendo com tal naturalidade como se estivesse bebendo uma taça de Terras Sauvignon Blanc – rótulo de sua vinícola no Chile – num final de tarde. E nos brindou com sua presença justo no dia de seu 59º aniversário!

Pascal falou sobre sua trajetória e projetos




Pascal Marty é praticamente um observatório em pessoa! Acompanha através de seu bem montado networking tudo o que acontece em termos de vinho nos quatro cantos do mundo. Há tempos fixou seu olhar na produção vitivinícola brasileira e nos filhos desta, os quais vêm provando e estudando. “Atualmente não existe nenhum país que não seja capaz de produzir bons vinhos. O que me atrai no Brasil e especificamente nesta região é a dificuldade que o clima representa. Para fazer grandes vinhos, sempre é preciso estar em condições difíceis. A natureza ajuda, mas também é preciso lutar contra ela” afirmou em uma de suas passagens por estas terras.  

Opus One Winery na califórnia

Viña Almaviva no Chile

Almaviva foi o primeiro vinho super premium da América do Sul


O icônico Opus One fruto da parceria de Mondavi e Rotschild 

Falando em vinho brasileiro o enólogo comentou que anda se surpreendendo positivamente com os tintos pois as características percebidas denotam aspectos elegantes e bem definidos. Sobre ser a Merlot – de acordo com muitos enólogos a casta que mais bem se adaptaria as condições climáticas do Brasil e principalmente da Serra Gaúcha – Pascal foi taxativo dizendo que ainda falta encontrar a real identidade, uma alma, para o vinho brasileiro, pois a Cabernet Sauvignon se deu muito bem na Califórnia, a Malbec, na Argentina, o Tannat, no Uruguai e o Carmenère no Chile. Todavia ainda não conseguiu definir o vinho brasileiro em apenas uma variedade. “Quem sabe ao invés de eleger uma casta representativa no Brasil, o caminho seja a elaboração de vinhos de corte por aqui” resume.
Centenária Vinícola Peterlongo em Garibaldi

Na sua palestra o enólogo falou sobre a alegria de poder pela primeira vez estar assessorando uma vinícola brasileira: “o que estimulou minha parceria com a Peterlongo foi a temática que o vinho brasileiro possui, pois há algo especial no Brasil para elaborar o vinho, um vinho próprio, de caráter único, de qualidade. O Brasil é um país continente e há muito para se desenvolver junto ao consumidor desta bebida”.

O trabalho a ser feito junto a Peterlongo é de médio a longo prazo, primeiro reposicionando a marca dentro do mercado através de uma proposta de novos produtos e de qualidade superior e depois lançando novos rótulos, linhas e produtos. A Peterlongo que foi fundada em 1915 pelo imigrante italiano Manoel Peterlongo esteve praticamente falida e há pouco mais de dez anos foi adquirida pelo empresário Luiz Carlos Sella, que a reergueu financeiramente e vêm num árduo trabalho de reposicionamento de marca contando com Pascal nesta empreitada. 

Marty assinou rótulo de um Almaviva safra 2000
Falou ainda sobre dois de seus grandes trabalhos curriculares: opus One e Almaviva. O projeto para criação de Opus One surgiu de forma bastante singela, afinal o Baron Philipe (de Rotschild) e Robert Mondavi entre uma e outra taça de vinho decidiram criar algo novo, uma parceria entre uvas da Califórnia e técnica de elaboração francesa, até então algo único e inovador. Definiram o aporte necessário para a criação da vinícola – algo em torno de 3 milhões de dólares – e estartaram o projeto. Mondavi acabou envolvendo atores, personalidades e pesado marketing e o que era para custar 3, acabou custando 90 milhões de dólares! Já o Almaviva foi um grande desafio pois era a criação de um novo conceito,  com foco e direção, diferente do Opus. Pascal trabalhou focado na busca da criação deste conceito, desenvolvendo a uva a partir da preparação do solo até o cuidado na elaboração e corte feito para se chegar no perfil desejado. Pascal lembra de cada safra em que esteve a frente e fala com propriedade sobre os desafios de cada uma delas. Tal empenho alçou o Almaviva entre os mais pontuados e aplaudidos tinto do mundo.

Quem é Pascal Marty?

O francês é engenheiro agrônomo e enólogo formado pelo Instituto de Enologia de Bordeaux em 1982, Pascal Marty foi winemaker da Baron Philippe de Rothschild por mais de 14 anos, onde integrou o processo de expansão global da empresa e se transformou em um dos maiores nomes do setor no mundo sendo responsável por alguns dos projetos vitivinícolas mais ousados e bem sucedidos do planeta. Durante sua atuação na Baron Philippe de Rothschild coube a Marty implantar e acompanhar o desenvolvimento e gestão da associação franco-america com Robert Mondavi que resultou no Opus One, em 1984. O projeto é o considerado o primeiro vinho ultra premium do mundo. Pascal Marty acompanhou a construção de uma vinícola inovadora que deu origem ao vinho que uniu a tinta Cabernet Sauvignon e outras variedades de Bordeaux, como Cabernet Franc e Merlot. Com o passar dos anos o ousado projeto que uniu dois gigantes da indústria vitivinícola mundial acumulou prêmios e fama e criou seu próprio nicho de mercado. 

Pensador:



“Quem sabe ao invés de eleger uma casta representativa no Brasil, o caminho seja a elaboração de vinhos de corte por aqui”. Pascal Marty


Em 1997 Pascal Marty foi o escolhido para ser Co-CEO e winemaker de Viña Almaviva, no Chile numa joint venture criada pela Baron Phillippe em parceria com a Concha y Toro. A Viña Almaviva lançou o primeiro ultra premium chileno e deu novo status ao vinho latino americano. Marty acompanhou pessoalmente a revitalização de 40 hectares de vinhedos e a construção desta vinícola icônica e que em pouco tempo transformou seus vinhos em sinônimo de qualidade e desejo em várias partes do mundo tendo o tinto Almaviva recebido pontuações entre 95 e 100 pontos de variados críticos, personalidades e revistas internacionais. Em 2003, Pascal teve a oportunidade de construir e desenvolver um projeto único que levou à criação do primeiro vinho ícone da Vina Cousino Macul, chamado Lota. Desde o seu lançamento, este conjunto de uvas tintas de qualidade super premium recebeu notas acima de 93 pontos e elogios de líderes da indústria vitivinícola. Com uma longa história na indústria do vinho chileno e do mundo, Marty atualmente mantém algumas poucas consultorias escolhidas a dedo no mundo e comanda sua própria vinícola, a Viña Marty, no Chile, onde a tradição e experiência do Velho Mundo de fundem com a modernidade e inovação do Novo Mundo. É há 2 anos o enólogo consultor da Vinícola Peterlongo em Garibaldi.

Baco fala:

Entre os vinhos elaborados pela Vinícola Peterlongo apresentados, dois chamaram muita atenção. 

O espumante Peterlongo Privilége Extra Brut 2016 com sua coloração amarelo ouro límpida e brilhante e que trouxe aromas muito agradáveis com frutas brancas maduras, tostado, amêndoas, baunilha, brioche e apelo amanteigado e boca exuberante, com ótima cremosidade, acidez e persistência e com a amêndoa e a manteiga destacando o paladar. 

É elaborado pelo método tradicional e passa 18 meses em contato com as leveduras. Uma excelente companhia para canapés, saladas e mesmo algumas sobremesas. 

Possui graduação alcoólica de 11,5% e o ideal é ser servido na temperatura de 5oC.

O Peterlongo Armando Memória Teroldego 2016 foi quase uma unanimidade! Um tinto de coloração rubi violáceo turva e de lágrimas preguiçosas na taça. Aromas trazendo frutas negras maduras – ameixa, groselha, mirtilo – presença de tostado, chocolate e toque defumado. 
Boca com taninos finos e elegantes, equilibrado, saboroso, com bom corpo e ampla persistência. Repousa 12 meses em barricas de carvalho francês. Harmoniza muito bem com carnes assadas, carnes de caça, cozidos e queijos duros. 

Possui graduação alcoólica de 13% e o ideal é ser servido na temperatura de 18oC.


Confraria do Sagu


Confrade Sandor Hoppe entregou placa homenageando o enólogo pelo seu trabalho junto ao desenvolvimento do vinho mundial e agora brasileiro  


Marty no assoprar das velas do bolo pela passagem de seu aniversário


Chef Cesar Spohr e a garrafa de Almaviva 2000 autografada pelo seu criador 


Descontração e muitas histórias foi o mote do encontro realizado



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