Eleito
Enólogo do Ano 2017, Carlos Abarzúa esteve em Santa Cruz e concedeu esta
entrevista exclusiva!
No último dia 31 de outubro, a
Confraria do Sagu – especializada na análise técnica de vinhos – recebeu como
convidado e palestrante nada mais nada menos que Carlos Abarzúa, enólogo e
diretor da Vinícola Geisse de Pinto Bandeira na Serra Gaúcha, recém eleito pela
Associação Brasileira de Enologia, o Enólogo do Ano 2017. Carlitos – como é
carinhosamente chamado pelos amigos e colegas do vinho – apresentou uma inédita
degustação vertical do espumante Cave Geisse Nature de 2010 a 2015 além de um hours concours, Cave Geisse Brut safra
2002 com o qual foi brindado o magnifico encontro e de sua recém-homenagem. Este
chileno de 55 anos e torcedor do Grêmio é o enólogo da Vinícola Geisse há mais
de 30 anos, diretor e braço direito de Don Mário Geisse – fundador da vinícola.
Abarzúa é obcecado pela incessante busca da excelência na qualidade de seus
espumantes. Sob seu guarda-chuvas estão os espumantes Cave Geisse, que ocupam o
posto de estar entre os mais premiados do Brasil. Com formação pelo Inacap de
Santiago do Chile, já participou de dezenas de congressos e seminários no
Brasil e no exterior. Também é degustador em concursos internacionais no mundo
inteiro, tendo participado em eventos no Brasil, Bulgária, Espanha, Eslovênia,
Estados Unidos, Itália e Panamá. Este mestre dos espumantes foi presidente da
ABE no biênio 2008-2009. A seguir a entrevista exclusiva dada ao Blog Eu, Gourmet.
Abarzúa palestrou a Confraria do Sagu |
Nome completo: Carlos Eduardo
Abarzúa Espejo
Idade: 55
Nacionalidade: Chilena
Time que torce: Grêmio
Cidade que reside: Bento
Gonçalves / RS
Formação profissional: Micro
biólogo em alimentos e enologia
Empresas em que trabalha(ou):
Cave Geisse
Mora no Brasil desde: desde
1984
Casado e pai de 3 filhos.
- Como você veio trabalhar no
Brasil?
Vim fazer um estágio na Chandon
quando Mario Geisse, enólogo, era o diretor industrial onde acabei fazendo
minha tese em leveduras.
- No Chile já desenvolveu vinhos
também? Quais?
Só estágio na Vinícola
Manquehue.
- É possível produzir espumantes
de alta qualidade no Brasil? Como?
Sim e muito. A Serra Gaúcha
proporciona um terroir ótimo para se produzir este tipo de bebidas. O principal
e a matéria prima, ou seja, saber escolher as variedades adequadas e com uma
sanidade boa. O resto deixamos a natureza fazer e acompanhar.
- Você é um enólogo inovador e
de excelência na produção de espumantes. Fale um pouco sobre este trabalho
diferenciado.
Sempre trabalhar com boa
matéria prima e tentar não modificar o que a natureza nos proporciona, quero
dizer que quando trabalhamos o mais natural possível conseguimos ter resultados
em todos os produtos. E utilizar mais processos físicos – como frio, decantação,
etc - que químicos.
Vertical de Cave Geisse Nature de 2015 a 2010, da esquerda para a direita |
- O Brasil - e em especial o RS
- tem ainda como melhorar seus espumantes? Qual seria o caminho para isso?
Sim e muito, creio que o
primeiro passo é trabalhar melhor a matéria prima e buscar as variedades que
melhor se adaptem para cada tipo de produto e legislar um pouco melhor sobre
tudo com parâmetros (exemplo prensagem, rendimentos por quilo, tempo de guarda
no caso dos espumantes pelo método tradicional, entre outras coisas).
- Seus espumantes são produzidos
em Pinto Bandeira que logo terá DO em espumantes. Realmente esta localidade é
um bom terroir para este tipo de vinho?
Pinto Bandeira e uma região
privilegiada dentro da Serra gaúcha, temos um solo magnifico e uma altitude que
nos permite elaborar uvas de excelente qualidade para espumantes.
- Ainda há algum local promissor
no Brasil ideal para produção de espumantes e vinhos e ainda pouco explorado?
Creio que sim, falta talvez um
visionário como tivemos aqui em Pinto Bandeira que foi o Mario Geisse.
- Fale das conquistas da Cave
Geisse?
Temos conseguido nos últimos
anos muitos reconhecimentos nacionais e internacionais o que nos deixa muito
felizes, mas o mais importante é manter o nível de qualidade e esse é o nosso
principal objetivo.
- Você é adepto a passagem de
espumante por barrica? Fale a respeito.
Sim o vinho base, mais a tal
passagem em madeira deve ser discreta para não alterar as características do
produto.
- Numa safra ruim, de que forma
o enólogo consegue extrair o máximo de qualidade e elaborar bons espumantes?
Selecionando muito bem a
matéria prima tanto na colheita como antes da prensagem. Milagres não existem
em este tipo de trabalho.
- O que você acha sobre os
vinhos orgânicos e biodinâmicos? É uma tendência?
Sim é uma tendência. Acredito
e estão surgindo muitos produtos interessantes, e acompanhando esse mercado
cada vez mais a Vinícola Geisse está investindo em novas formas de conduzir
nossos vinhedos, tarefa que não e fácil dado as dificuldades que temos
principalmente com o clima de nossa região.
- A tecnologia faz diferença na
produção de vinhos? Onde ela aparece?
A tecnologia sim faz a
diferença, mas sem trocar as características do produto, aparece em todos os
processos.
- Agora falando de tintos, qual
casta que você considera que poderá ser o cartão de visitas do Brasil?
Se fala muito do Merlot, mas
creio que o Cabernet Franc pode se diferenciar muito!
- Fale de suas experiências com
leveduras indígenas.
Já venho fazendo trabalhos
dentro da Geisse há oito anos e temos conseguido avançar muito, creio que no
futuro poderá ser concretizado. Já foram selecionadas junto a Embrapa Uva e Vinho
algumas leveduras dos vinhedos de pinto Bandeira que neste momento estão em
testes. Creio importante para marcar a característica da região.
- Por que Argentina e Chile
produzem vinhos médios de tão boa qualidade e preço e o que as vinícolas
brasileiras podem fazer para alcançarem este patamar?
Clima, custo de produção e – principalmente
- impostos.
Enólogo foi homenageado com uma placa pelo seu trabalho no desenvolvimento e busca de excelência do vinho brasileiro |
- E por que o Brasil é tão
diferenciado na produção de espumantes frente a estes mesmos países?
No Brasil conseguimos ter uma
uva absolutamente madura com as características ideais, quero dizer, com grau
alcoólico baixo e acidez alta naturalmente.
- Quantos rótulos você já
elaborou?
Mais de 60 rótulos entre
vinhos e espumantes.
- Qual o vinho que você elaborou
que mais orgulho lhe deu?
Sem dúvida o espumante Cave
Geisse 1998.
Algumas garrafas foram "sabradas" |
- Qual sua uva preferida?
Chardonnay.
- Qual o melhor vinho que você
já degustou?
Muitos! É difícil de falar um
específico, mas adoro Sauvignon Blanc.
- Prato preferido?
Sem dúvida frutos do mar em
geral.
- Restaurante preferido?
Vários, mas os especialistas
em frutos do mar!
O convidado e um de seus pratos preferidos, a Paella Marinera, preparada pelo chef César Spohr |
- Uma vinícola - fora a que você
trabalha - que admira, seja no Brasil ou no mundo?
Difícil, mas muitas vinícolas
se destacam entre uma delas a Casa La Postolle em Apalta, Chile.
- Personalidade admirada na área
do vinho?
Sem dúvida Mario Geisse.
- Deixe uma dica para quem está
começando a se interessar em beber vinhos.
Existem diferentes tipos e
qualidades de vinho, antes de tudo, temos que ir atrás ao que nosso paladar
mais se adapta e com o passar do tempo ir diversificando e reconhecendo coisas
novas. Quando se fala em vinhos temos que saber que gosto é algo pessoal e que
não podemos obrigar as pessoas a gostarem todas da mesma coisa.
Cave Geisse Brut 2002 Magnun servida no brinde |
Abrazúa e este editor em volta do "ninho Geisse" |
A Confraria do Sagu |
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