quinta-feira, 9 de novembro de 2017

O mestre dos espumantes!


Eleito Enólogo do Ano 2017, Carlos Abarzúa esteve em Santa Cruz e concedeu esta entrevista exclusiva!


No último dia 31 de outubro, a Confraria do Sagu – especializada na análise técnica de vinhos – recebeu como convidado e palestrante nada mais nada menos que Carlos Abarzúa, enólogo e diretor da Vinícola Geisse de Pinto Bandeira na Serra Gaúcha, recém eleito pela Associação Brasileira de Enologia, o Enólogo do Ano 2017. Carlitos – como é carinhosamente chamado pelos amigos e colegas do vinho – apresentou uma inédita degustação vertical do espumante Cave Geisse Nature de 2010 a 2015 além de um hours concours, Cave Geisse Brut safra 2002 com o qual foi brindado o magnifico encontro e de sua recém-homenagem. Este chileno de 55 anos e torcedor do Grêmio é o enólogo da Vinícola Geisse há mais de 30 anos, diretor e braço direito de Don Mário Geisse – fundador da vinícola. Abarzúa é obcecado pela incessante busca da excelência na qualidade de seus espumantes. Sob seu guarda-chuvas estão os espumantes Cave Geisse, que ocupam o posto de estar entre os mais premiados do Brasil. Com formação pelo Inacap de Santiago do Chile, já participou de dezenas de congressos e seminários no Brasil e no exterior. Também é degustador em concursos internacionais no mundo inteiro, tendo participado em eventos no Brasil, Bulgária, Espanha, Eslovênia, Estados Unidos, Itália e Panamá. Este mestre dos espumantes foi presidente da ABE no biênio 2008-2009. A seguir a entrevista exclusiva dada ao Blog Eu, Gourmet 

Abarzúa palestrou a Confraria do Sagu


Nome completo: Carlos Eduardo Abarzúa Espejo
Idade: 55
Nacionalidade: Chilena
Time que torce: Grêmio
Cidade que reside: Bento Gonçalves / RS
Formação profissional: Micro biólogo em alimentos e enologia
Empresas em que trabalha(ou): Cave Geisse
Mora no Brasil desde: desde 1984
Casado e pai de 3 filhos.


- Como você veio trabalhar no Brasil?
Vim fazer um estágio na Chandon quando Mario Geisse, enólogo, era o diretor industrial onde acabei fazendo minha tese em leveduras.

- No Chile já desenvolveu vinhos também? Quais?
Só estágio na Vinícola Manquehue.

- É possível produzir espumantes de alta qualidade no Brasil? Como?
Sim e muito. A Serra Gaúcha proporciona um terroir ótimo para se produzir este tipo de bebidas. O principal e a matéria prima, ou seja, saber escolher as variedades adequadas e com uma sanidade boa. O resto deixamos a natureza fazer e acompanhar.

- Você é um enólogo inovador e de excelência na produção de espumantes. Fale um pouco sobre este trabalho diferenciado.
Sempre trabalhar com boa matéria prima e tentar não modificar o que a natureza nos proporciona, quero dizer que quando trabalhamos o mais natural possível conseguimos ter resultados em todos os produtos. E utilizar mais processos físicos – como frio, decantação, etc - que químicos.

Vertical de Cave Geisse Nature de 2015 a 2010, da esquerda para a direita


- O Brasil - e em especial o RS - tem ainda como melhorar seus espumantes? Qual seria o caminho para isso?
Sim e muito, creio que o primeiro passo é trabalhar melhor a matéria prima e buscar as variedades que melhor se adaptem para cada tipo de produto e legislar um pouco melhor sobre tudo com parâmetros (exemplo prensagem, rendimentos por quilo, tempo de guarda no caso dos espumantes pelo método tradicional, entre outras coisas).

- Seus espumantes são produzidos em Pinto Bandeira que logo terá DO em espumantes. Realmente esta localidade é um bom terroir para este tipo de vinho?
Pinto Bandeira e uma região privilegiada dentro da Serra gaúcha, temos um solo magnifico e uma altitude que nos permite elaborar uvas de excelente qualidade para espumantes.

- Ainda há algum local promissor no Brasil ideal para produção de espumantes e vinhos e ainda pouco explorado?
Creio que sim, falta talvez um visionário como tivemos aqui em Pinto Bandeira que foi o Mario Geisse.


- Fale das conquistas da Cave Geisse?
Temos conseguido nos últimos anos muitos reconhecimentos nacionais e internacionais o que nos deixa muito felizes, mas o mais importante é manter o nível de qualidade e esse é o nosso principal objetivo.

- Você é adepto a passagem de espumante por barrica? Fale a respeito.
Sim o vinho base, mais a tal passagem em madeira deve ser discreta para não alterar as características do produto.

- Numa safra ruim, de que forma o enólogo consegue extrair o máximo de qualidade e elaborar bons espumantes?
Selecionando muito bem a matéria prima tanto na colheita como antes da prensagem. Milagres não existem em este tipo de trabalho.

- O que você acha sobre os vinhos orgânicos e biodinâmicos? É uma tendência?
Sim é uma tendência. Acredito e estão surgindo muitos produtos interessantes, e acompanhando esse mercado cada vez mais a Vinícola Geisse está investindo em novas formas de conduzir nossos vinhedos, tarefa que não e fácil dado as dificuldades que temos principalmente com o clima de nossa região.



- A tecnologia faz diferença na produção de vinhos? Onde ela aparece?
A tecnologia sim faz a diferença, mas sem trocar as características do produto, aparece em todos os processos.

- Agora falando de tintos, qual casta que você considera que poderá ser o cartão de visitas do Brasil?
Se fala muito do Merlot, mas creio que o Cabernet Franc pode se diferenciar muito!

- Fale de suas experiências com leveduras indígenas.
Já venho fazendo trabalhos dentro da Geisse há oito anos e temos conseguido avançar muito, creio que no futuro poderá ser concretizado. Já foram selecionadas junto a Embrapa Uva e Vinho algumas leveduras dos vinhedos de pinto Bandeira que neste momento estão em testes. Creio importante para marcar a característica da região.

- Por que Argentina e Chile produzem vinhos médios de tão boa qualidade e preço e o que as vinícolas brasileiras podem fazer para alcançarem este patamar?
Clima, custo de produção e – principalmente - impostos.

Enólogo foi homenageado com uma placa pelo seu trabalho no desenvolvimento e busca de excelência do vinho brasileiro


- E por que o Brasil é tão diferenciado na produção de espumantes frente a estes mesmos países?
No Brasil conseguimos ter uma uva absolutamente madura com as características ideais, quero dizer, com grau alcoólico baixo e acidez alta naturalmente.

- Quantos rótulos você já elaborou?
Mais de 60 rótulos entre vinhos e espumantes.

- Qual o vinho que você elaborou que mais orgulho lhe deu?
Sem dúvida o espumante Cave Geisse 1998.

Algumas garrafas foram "sabradas" 


- Qual sua uva preferida?
Chardonnay.

- Qual o melhor vinho que você já degustou?
Muitos! É difícil de falar um específico, mas adoro Sauvignon Blanc.

- Prato preferido? 
Sem dúvida frutos do mar em geral.

- Restaurante preferido?
Vários, mas os especialistas em frutos do mar!

O convidado e um de seus pratos preferidos, a Paella Marinera, preparada pelo chef César Spohr 

- Uma vinícola - fora a que você trabalha - que admira, seja no Brasil ou no mundo?
Difícil, mas muitas vinícolas se destacam entre uma delas a Casa La Postolle em Apalta, Chile.

- Personalidade admirada na área do vinho?
Sem dúvida Mario Geisse.

- Deixe uma dica para quem está começando a se interessar em beber vinhos.
Existem diferentes tipos e qualidades de vinho, antes de tudo, temos que ir atrás ao que nosso paladar mais se adapta e com o passar do tempo ir diversificando e reconhecendo coisas novas. Quando se fala em vinhos temos que saber que gosto é algo pessoal e que não podemos obrigar as pessoas a gostarem todas da mesma coisa.


Cave Geisse Brut 2002 Magnun servida no brinde 

Abrazúa e este editor em volta do "ninho Geisse"


A Confraria do Sagu

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