quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Sou de um tempo...



Sempre que sinto cheiro de café passado e pão assado recordo de um tempo em que os alimentos eram mais saborosos, saudáveis e divertidos!



Eu sou de um tempo que não voltará e dizendo isto não significa que penso estar ficando velho. Saudosista quem sabe, velho nunca. Sou de um tempo de comidas preparadas com sabor, com ingredientes vindos de agricultura familiar e que serviram de base para os nossos avós - muitos que ainda hoje vivem. Estruturados sobre uma alimentação rica em nutrientes, saudável sem ser proibitiva, calórica sem ser obesa, estimulante sem ser hormonizada. Pois bem, recordo dos pães de milho assados ao forno cujas fatias pareciam havaianas do Tim Duncan, cobertas ainda quentes com nata nascidas no mesmo dia e geléia de figo ainda morna. E aquelas bolachas que moldava no formato de bonecos com um grão de feijão fazendo as vezes do nariz e sementes de milho sendo os olhos. As verduras colhidas na horta tinham – pasme – gosto de ... verduras! Tomates e rabanetes colhidos na hora, limpos na camiseta e degustados ali mesmo entre os canteiros de rúculas e cenouras. Adorava a galinha caipira frita – naquele tempo todas as galinhas eram caipiras, tratadas com milho, azevem, aipim picado e restos de comida (as galinhas dividiam com os porcos este trato) – que era abatida tendo o pescoço torcido, depois pendurada de cabeça para baixo acumulava o sangue neste que era uma iguaria disputada por todos na mesa. Os cortes de carne vinham da raça Jersey (aquele gado de leite bem comum criado solto) e não tenho lembrança de serem duros, nem mesmo o acém e o patinho. 

E falando em carne, que grande evento era o abate de um porco, criado tendo à base da ração dividida com as galinhas e citada acima, com suas enumeras latas de banha e com aproveitamento total, desde a pele para o torresmo devorado antes de ir a prensa, os metros de morcilha pretas e brancas preparadas e os pedaços de carne cozidos e que eram guardados em grandes tachos de barro mergulhados em sua própria gordura para armazenamento. E aquela vigorosa sopa de vegetais e ossobuco recheados de tutano extraídos a chupões do osso numa noite de muita chuva e frio? Colesterol? Triglicerídios? Seus índices não faziam cócega perto aos inúmeros conservantes, hormônios, suplementos e toda bomba química usada hoje para levar a mesa comida quase mutante.        

E neste mar de boas lembranças eis que não consigo fugir de uma fatídica pergunta: por que cozinho? Nem sempre tal questão ecoa uma resposta fácil e simples... Talvez cozinhe por ser uma bela terapia, quem sabe pelo fato de resgatar a família no entorno da mesa... Ou quem sabe para tentar trazer de volta um tempo que teimo não esquecer.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário