Antes de tudo
o vinho é uma bebida e assim deve ser entendida, mas uma bebida recheada de
vida, cultura e história
Tenho vivenciado de perto nestes
últimos 10 anos um pouco da evolução do vinho brasileiro. São inúmeras
participações em eventos, lançamentos, degustações, avaliações e proximidade de
produtores e enólogos. É notável a evolução do que encontramos ao abrir uma
nova garrafa, pois muita coisa melhorou, seja o cultivo do solo, o trato para
com as videiras, a tecnologia mais avançada nos equipamentos, a expertise que foi se formando, o marketing, a dedicação dos envolvidos mas
principalmente o entendimento de como todas estas engrenagens funcionam juntas.
E qual o sentido deste engajamento todo? O consumidor. Ele é a razão de ser de
todo e qualquer produto ou serviço. Talvez este seja ainda o que resta a
desvendar para, que de uma vez por todas, o vinho brasileiro dê aquele passo
mais largo no sentido de dados estatísticos mais favoráveis, afinal, onde entra
algo chamado “preço” mais o verbo “vender” o que passa a reger a sinfonia é o
número a ser entregue. E neste momento a paixão, a dedicação e o afeto que os
trabalhadores do vinho tem sobre suas criações possuem o cordão umbilical
cortado e necessitam ser comunicadas, precificadas e vendidas. É assim que as
vinícolas se mantém, é assim que se postergam ao longo do tempo e evoluem –
salvo raras exceções onde vinhateiros fazem vinhos para seu consumo e de seus
pares como hobby, sem a necessidade de serem levados ao mercado.
É importante termos isto claro
para então avançarmos mais um bocado. O consumo per capita de vinhos no Brasil
não chega a 2 litros/ano por habitante, um índice muito baixo mas que reflete o
raio X de nossa população, acostumada com outras bebidas como cerveja e
cachaça, principalmente pela cultura do baixo preço. E destes quase 400 milhões
de litros consumidos no ano, praticamente menos de um quarto refere-se a vinho
fino, os demais são vinhos de mesa. Infelizmente por um sem número de razões
tributárias e de custo produtivo, um vinho fino brasileiro com alguma qualidade
chega ao consumidor iniciando em torno de R$ 20,00 a garrafa de 750 ml e daqui
se multiplica geometricamente. Ou seja, não é uma bebida que se encaixe no
orçamento da absoluta maioria da nossa população. Quem sabe o olhar das
vinícolas deva ser sobre a minoria populacional que alcance tal investimento,
um mercado a ser impactado com muita presença junto ao consumidor até mesmo
para desmistificar que vinho – pelo posicionamento de produto adotado pelas
próprias vinícolas – é elitista. E se faz derradeiro a necessidade de oferecer
cada vez mais por menos. Vinho é uma bebida viva, é cultura, se molda ao estado
de espírito de quem o degusta, é prazer, mas evidentemente é encarado de forma
diversa a bebidas industrializadas de larga escala e de valores mais módicos.
Mas pode isto sim, deixar a frescura de lado e tornar-se um parceiro para
muitos momentos, sem compromisso seja com etiqueta ou com a opinião alheia.
Vinho brasileiro, seja você mesmo!
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