Na antiguidade não existia
essa coisa de se comer com talheres de metal, cinco copos de cristal para cada
convidado sobre a mesa e aquela higiene toda no preparo dos alimentos. As
pessoas comiam com as mãos e como não havia guardanapos elas limpavam-nas nos pelos
de animais como cães, gatos e coelhos colocados no lugar onde se alimentava.
Lembrei de um tio de um conhecido, meio eremita, solitário e distante, que
almoçava rodeado de sua única companhia, uma matilha de 12 cachorros! Se fosse
naquela época iriam espalhar que o homem era um glutão insaciável...
Teve uma oportunidade em que
fui almoçar na chácara deste senhor, que sabedor de minha busca pelas mais
ecléticas descobertas gastronômicas, convidou-me a saborear um banquete de
comida feita no fogão à lenha, lá pelos interiores de Encruzilhada do Sul onde
reside. Pois embretei-me por aqueles pagos na companhia deste conhecido. Depois
de andarmos um bom tempo chegamos defronte a uma porteira verde de maçanetas
enferrujadas que foi aberta pelo tio que trazia em seu colo um pequeno
porquinho macau, aquele de nariz curto e pele malhada. De imediato fez-nos
sentar à mesa, que continha em seu pé, amarrado, um outro porco, grande e
peludo, dormindo, que roncava sem parar. Impressionei-me mas me mantive
confiante tal qual a torcida gremista. E o tio, bastante habilidoso na
preparação dos pratos, serviu-nos - com o porquinho sobre o suvaco desnudo - de
pequenas batatas cozidas, um pouco de cebola caramelizada, fatias de laranja e,
cruz-credo, carne de porco assada! Mesmo meio a contragosto provei e a maciez
da carne e o gosto do tempero realmente estavam divinos.
Pedi a receita do preparo da
carne e o tio me confidenciou fazendo um cafuné com o pé descalço na barriga do
porco atado à mesa dizendo que um pouco de carinho era o segredo da maciez e do
sabor. Espantado, levantei da mesa de sobressalto e ao disparar tropecei no
porco deitado e bati com a testa na quina do fogão à lenha, esparramando a
sangüera pelo chão. Nem curativo deixei fazerem, subi no carro e corri para
casa. Vá que o tio além de carinho, gostasse de morcilha...
Pernil de suíno com tempero do Tio
Ingredientes:
(para 4 pessoas)
Uma fatia de um quilo de
pernil com osso
4 dentes de alho cortados em
metades
Pitadas de louro em pó
Pitadas de cominho em pó
Pitadas de páprica picante em
pó
Sal à gosto
Pimenta do reino moída à gosto
Duas colheres de sopa de
sementes de zimbro
Preparo:
Temperar o pernil usando todos
os temperos acima. Fazer pequenos furos com uma faca na carne e alternar com as
sementes de zimbro (facilmente encontradas em supermercados em embalagens junto
à seção temperos) e alho. Caprichar no sal, pois ao levar ao forno a tendência
é o sal escorrer. Untar um refratário com óleo de girassol, dispor o pernil,
cobrir com papel laminado e levar ao forno pré-aquecido por cerca de 40 minutos
em 220 graus. Tirar o papel laminado e deixar mais 20 minutos para dourar,
regando a cada cinco minutos com a gordura no refratário. Servir com cebolas
caramelizadas em mel, batatas cozidas e passadas na manteiga com cebolinha
verde picada e laranja cortada.
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