quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O pernil de suíno com tempero do Tio

Na antiguidade não existia essa coisa de se comer com talheres de metal, cinco copos de cristal para cada convidado sobre a mesa e aquela higiene toda no preparo dos alimentos. As pessoas comiam com as mãos e como não havia guardanapos elas limpavam-nas nos pelos de animais como cães, gatos e coelhos colocados no lugar onde se alimentava. Lembrei de um tio de um conhecido, meio eremita, solitário e distante, que almoçava rodeado de sua única companhia, uma matilha de 12 cachorros! Se fosse naquela época iriam espalhar que o homem era um glutão insaciável...

Teve uma oportunidade em que fui almoçar na chácara deste senhor, que sabedor de minha busca pelas mais ecléticas descobertas gastronômicas, convidou-me a saborear um banquete de comida feita no fogão à lenha, lá pelos interiores de Encruzilhada do Sul onde reside. Pois embretei-me por aqueles pagos na companhia deste conhecido. Depois de andarmos um bom tempo chegamos defronte a uma porteira verde de maçanetas enferrujadas que foi aberta pelo tio que trazia em seu colo um pequeno porquinho macau, aquele de nariz curto e pele malhada. De imediato fez-nos sentar à mesa, que continha em seu pé, amarrado, um outro porco, grande e peludo, dormindo, que roncava sem parar. Impressionei-me mas me mantive confiante tal qual a torcida gremista. E o tio, bastante habilidoso na preparação dos pratos, serviu-nos - com o porquinho sobre o suvaco desnudo - de pequenas batatas cozidas, um pouco de cebola caramelizada, fatias de laranja e, cruz-credo, carne de porco assada! Mesmo meio a contragosto provei e a maciez da carne e o gosto do tempero realmente estavam divinos.


Pedi a receita do preparo da carne e o tio me confidenciou fazendo um cafuné com o pé descalço na barriga do porco atado à mesa dizendo que um pouco de carinho era o segredo da maciez e do sabor. Espantado, levantei da mesa de sobressalto e ao disparar tropecei no porco deitado e bati com a testa na quina do fogão à lenha, esparramando a sangüera pelo chão. Nem curativo deixei fazerem, subi no carro e corri para casa. Vá que o tio além de carinho, gostasse de morcilha...

Pernil de suíno com tempero do Tio


Ingredientes:
(para 4 pessoas)

Uma fatia de um quilo de pernil com osso
4 dentes de alho cortados em metades
Pitadas de louro em pó
Pitadas de cominho em pó
Pitadas de páprica picante em pó
Sal à gosto
Pimenta do reino moída à gosto
Duas colheres de sopa de sementes de zimbro

Preparo:

Temperar o pernil usando todos os temperos acima. Fazer pequenos furos com uma faca na carne e alternar com as sementes de zimbro (facilmente encontradas em supermercados em embalagens junto à seção temperos) e alho. Caprichar no sal, pois ao levar ao forno a tendência é o sal escorrer. Untar um refratário com óleo de girassol, dispor o pernil, cobrir com papel laminado e levar ao forno pré-aquecido por cerca de 40 minutos em 220 graus. Tirar o papel laminado e deixar mais 20 minutos para dourar, regando a cada cinco minutos com a gordura no refratário. Servir com cebolas caramelizadas em mel, batatas cozidas e passadas na manteiga com cebolinha verde picada e laranja cortada.                        


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