Em sua passagem por
Santa Cruz, o embaixador do vinho uruguaio Daniel Arraspide realizou uma memorável
degustação do que há de melhor na viticultura daquele país.
Uma noite realmente prazerosa!
Este seria o resumo do encontro da Confraria do Sagu – confraria especializada
na análise técnica de vinhos – ocorrido na última semana nas dependências do
Hotel Águas Claras Higienópolis e que contou com a brilhante presença do
jornalista e sommelier uruguaio Daniel Arraspide, que trouxe à provação dos
confrades uma exclusiva amostra de vinhos uruguaios, que impressionaram pela
qualidade e caráter de exceção.
Os vinhos uruguaios encontram-se
num estágio relevante e representativo no mundo do vinho, afinal muitos de seus
produtores vêm investindo em tecnologia e manuseio há vários anos, o que
contribui para ter-se um produto final pleno em qualidade. Na década de 1970,
houve uma renovação na vitivinicultura do Uruguai, uma reconversão, com novas
técnicas de plantio e cultivo, bem como a introdução de novas variedades de
uvas, que possibilitaram um desenvolvimento substancial à sua indústria de
vinhos finos, agregando um salto de qualidade às vinícolas que passaram a ter
reconhecimento de público e crítica daquilo que envasavam. O Uruguai é um dos
menores países da América do Sul, tanto em extensão territorial como em
habitantes, mas assim como a sua Celeste – nome dado a seleção uruguaia de
futebol – também é bravo e obstinado quando o assunto é vinho. Sua produção
vinícola com mais de 250 anos de história é respeitável e reconhecida, sendo
hoje o quarto maior polo produtor de vinhos da América do Sul, com mais de 180
vinícolas lá estabelecidas. A Tannat é a sua casta mais emblemática –
representando 45% de todo o cultivo hermano
- e a que recebe os maiores suspiros entre os enófilos apaixonados pelo líquido
de Baco. A adaptação desta uva de origem
francesa descobriu as condições climáticas perfeitas para recebê-la, com solo e
clima invejáveis. Também a Sauvignon Blanc, a Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e
a Merlot produzem bons vinhos por lá. O Uruguai - em especial o sul do país - possui
clima Atlântico e é beneficiado pela insolação típica do paralelo Sul 35 - o
mesmo das regiões superprodutoras como Mendoza (Argentina), Santiago (Chile),
Cape Town (África do Sul) e Adelaide (Austrália). Um pouco desta complexidade
pode ser degustada, nos rótulos apresentados por Daniel e aqui resumidamente
descritos.
Os vinhos:
No leque apresentado, um vinho
branco de guarda, o Pisano Gran Reserva Arretxea
2006 elaborado pelas uvas Viogner (87%), Chardonnay (8%) e Riesling Renano
(5%). Aromas cítricos (abacaxi, pomelo, maçã), frutas brancas secas, avelãs,
coco, toque floral, com coloração amarelo ouro com reflexos dourados, sedoso e
macio em boca, com grande untuosidade. Um vinho para ser bebido solo,
contemplativo e delicioso. Passagem de 12 meses em barricas de carvalho
francesas de primeiro uso. Possui 14% de graduação alcoólica.
Depois foi o momento do Atlantico Sur Rosé de Tannat 2014 produzido pela Família Deicas, um vinho fácil de beber, com linda cor rosa salmão, morango evidenciado no aroma e notas de – incrível – avelãs, boca fina e agradável, redondo e aveludado no palato. 13,5% de graduação alcoólica.
A sinfonia de tintos iniciou com
um vinho surpreendente, o Don Pascual Edición
Limitada Tannat 2000, da bodega Establecimiento Juanicó, sem filtragem.
Impressionante a carga aromática deste vinho com 15 anos de vida que passou 24
meses em barrica de carvalho americano de segundo uso. A coloração em taça
sequer apresentava halo ocre ou alaranjado, continuava púrpura brilhante e
viva. Em boca perfeito, impecável, pronto. Elegante, fruta perfeitamente
equilibrada com a madeira, com vivacidade e inquietude irretocável. A noite
começava a mostrar-se esplendorosa. Com 13% de graduação alcoólica.
O Toscanini Antologia Tannat 2004 ruborizou as taças com sua cor
violeta profundo e trouxe aromas de cassis, framboesa e amoras além de uma boca
com taninos finíssimos e ampla estrutura e complexidade. Com 18 meses de
passagem em barricas novas de carvalho francês mostrou-se marcante e amplo.
Possui 14% de graduação.
Os enólogos uruguaios
peculiarmente utilizam um pequeno corte da uva branca Viognier na composição de
alguns tintos, com um resultado surpreendente, pois tal casta traz uma secura
saliente a boca, o Alto de La Ballena
Tannat Viognier 2007 é um exemplo notável de tal blend – cortado em 15% com Viognier - traduzindo-se num vinho
agradabilíssimo com aromas de fruta negra com ameixa destacada, flores
silvestres, violetas e baunilha e boca macia e convidativa. Estagia 9 meses em
barricas novas de carvalho americano e 13,5% de álcool.
Seguindo a degustação, o vinho
seguinte foi o Montes Toscanini Corte
Supremo Premium 2009, outro blend
composto por Tannat, Cabernet Sauvignon e Merlot, que disputou votos como
“vinho da noite” com o Tannat 2000 da Juanicó. Fantástico vinho do enólogo
Leonardo Toscanini, que pode traduzir toda a excelência da viticultura
uruguaia. Passa 18 meses entre barricas americanas e francesas, de primeiro e
segundo uso. Com 14% de graduação alcoólica.
Depois quem se apresentou foi o Gimenez Mendez Tannat Premium 2011, um
vinho potente e correto, de taninos marcantes e grande complexidade. Trouxe
notas mentoladas, fruta expressiva, compota e especiarias. Em boca amplo, de
ótimo corpo e persistência. Um vinhaço que repousou 1 ano em barrica de
carvalho francês e americano! Apresenta 14% de volume alcoólico.
Por último o Bouza Monte Vide Eu 2012, premium
da bodega-boutique homônima, um corte de Tempranillo, Merlot e Tannat, ainda
jovem e por isso musculoso e irrequieto ao paladar. Um vinho que pede comida,
estruturado e complexo com potencial de guarda para no mínimo 10 anos! Com 14% de graduação alcoólica.
Ao final do encontro uma certeza
reinou absoluta entre os presentes: o vinho tinto brasileiro ainda tem muito
para percorrer até chegar ao patamar dos vizinhos uruguaios! O Uruguai é um dos
poucos países produtores que luta para não se render à padronização do vinho
que visa apenas o comércio, pelo contrário, dizem “este é o nosso vinho. Se você
gostar, ótimo, se não, continuaremos a fazê-lo do mesmo jeito, pois somos
autênticos”.
Quem é Daniel Arraspide?
Daniel Arraspide é um embaixador
do vinho uruguaio. Em suas andanças pelos continentes coleciona amigos,
admiradores e simpatizantes do mundo do vinho e carrega consigo a paixão pelos
bons produtos engarrafados naquele país. Daniel é avaliador de concursos de
vinhos e participante de eventos em torno deste universo. Também já foi
considerado o “Mais Gaúcho dos Uruguaios” tamanha a sua apreciação pelos
espumantes, pela gente e pelas coisas boas do Rio Grande do Sul. Assina
trabalhos para revistas e periódicos especializados entre os quais para a
Revista Placer, La Voz de la Arena, Enjoy Uy Magazine, Revista Sabores do Sul,
Revista Adega, Jornal Bon Vivant, e Exedra 21. É editor do blog Vinos y Bebidas
no Portal de Montevideo e site www.vinoybebidas.com
um dos mais influentes sites especializados do Uruguai.
Você encontra vinhos uruguaios na Wein Haus, loja especializada em vinhos, localizada na Rua João Pessoa
895, fone 3711.3665 e site www.weinhaus.com.br.
E lembre-se: se beber, NÃO
DIRIJA!
Arretxea 2007: branco de guarda |
Os tintos uruguaios carregados de corpo e estrutura |
Ótimo blend de Tannat e Viognier |
Sinfonia de tintos foi esplendorosa! |
A Confraria do Sagu |
Bacana, o Daniel é realmente um grande conhecedor e estudioso dos vinhos. Excelente cata! Moro no Uruguai e tive o prazer de degustar quase todos apresentados aí.
ResponderExcluirSó uma observação, não está faltando uma confreras por aí, não? haha, brincadeira. Parabéns!
Boa tarde! Por um problema no blogger somente hoje consegui ter acesso aos comentários gerados pois muitos não apareciam em minha página, por isso perdoe-me a falta de resposta. Daniel, um baita sujeito!
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