Os condomínios fechados
espalharam-se pelo litoral gaúcho, principalmente na parte Norte. De alguns
anos para cá dezenas destes complexos abastecidos com campos de golfe, lagos
artificiais, gourmeterias e quadras multiesportivas começaram a povoar as
margens da Estrada do Mar. Sim, mas há alguns quilômetros da beira-mar! Nunca
entendi o que poderia levar alguém a investir alguns milhares de reais – por
vezes milhões – em grandiosas, belas e equipadíssimas casas tão longe da areia.
Sempre fui um homem mais da terra
do que do mar. Minha infância passada nos sítios e fazendas de meus tios e avós
e os encantos que a vida rural oferecia a um jovem – caçadas de budoque,
aripucas, pescarias em açudes, sangas e rios, passeios de cavalo e semeadura da
terra – lambuzavam minha boca de prazer tal qual um naco de favo de mel recém-colhido
da colmeia. Fui descobrir o litoral um pouco mais tarde e o que de bom trazia
ao fã de U2 e New Order.
Quando adolescente me deslocava
acompanhado de um punhado de amigos a apartamentos e casas locados pelo jornal
numa época em que a internet ainda estava nos sonhos dos nerds americanos.
Pegávamos ônibus em nossa cidade e rumávamos com aparelhos de som gigantes e
pouco potentes, panelas, alguma comida e uns parcos trocos nos bolsos.
Adolescentes, jogávamos taco na praia, fazíamos pastéis de mariscos brancos
frescos desenterrados da areia, zoávamos algumas meninas e tomávamos drinques e
batidas ao som de Cascaveletes.
Chegaram os meus dois filhos e a
perspectiva de assiduidade na praia aumentou. Afinal um dos avôs - rato de
praia - incentivou as seguidas viagens a Capão. As coisas mudaram, a bagagem
necessária para alguns dias de veraneio entupiram o porta-malas do carro. O
antes trajeto feito em 3 horas agora leva 4 e mais um tanto pois as paradas
para alimentação e higiene são seguidas. E na praia, todos os dias o ritual se
repete: acorda-se, prepara-se o café para todos, besunta-se as crianças com
protetor solar, prepara-se as sacolas com previsões variadas, carrega-se
cadeiras, guarda-sóis, coolers e brinquedos. Na areia organiza-se toda a
estrutura e percebe-se que a água está marrom-Toddy e o repuxo afasta até mesmo
os banhistas mais incautos. A chegada do momento de descanso se distancia
quando uma das crianças coberta de areia tal como um croquete com farinha de
rosca chora reclamando do vento arenoso no rosto e tem que regressar para casa.
Quando chove então as opções acabam se reduzindo a ruidosas bagunças dentro de
casa tamanha a falta de atividade no litoral e claro, em comida e bebida. Ufa! E a noite chega e o que não vai embora é
a esperança de que o dia seguinte tudo vá ser diferente.
Começo a entender os
investimentos longe da beira-mar!
Na companhia das peripécias do
litoral, resta um belo petisco de Chip
de Arroz com Lula
Ingredientes:
200g de anéis de lula
200g de chip de arroz (na
falta pode ser chip de batata tipo Pringles)
100g de cream cheese
tradicional
1 dente de alho picadinho
Azeite de oliva
Sal e pimenta preta moída na
hora
Dill (endro) para decorar
Preparo:
Corte os anéis de lula em
pedaços de cerca de 1cm. Aqueça azeite de oliva e refogue o alho e a cebola em
fogo médio. Aumente o fogo e coloque a lula para saltear. Tempere com sal e
pimenta e mexa com cuidado por cerca de 2 minutos. Prepare os chips adicionando
uma camadinha de cream cheese e sobre esta dispondo os pedaços de lula. Salpique com endro desidratado e sirva como
petisco!