Um amigo comentou-me sobre uma
ilha na Bahia que era o point do momento: gente bonita, turistas do mundo todo,
baladas até o amanhecer, paisagens paradisíacas. Estávamos em 2004. Lá parti
para Morro de São Paulo, ilha há duas horas de catamarã do píer de Salvador,
para estada de uma semana. Havia reservado uma pousada bacana, com vista para a
praia número 1 e próxima da Rua do Centrinho, ruela que concentrava lojinhas e
alguns restaurantes. O primeiro desafio foi recuperar-se do enjôo do barco,
afinal o mar revolto não contribui muito para que a travessia fosse plenamente
saudável... O alento é que eu não era o único a passar mal, turistas
israelenses, espanhóis e ingleses que me faziam companhia na nave também
penduravam-se pelos entornos mareados pelo balanço do mar, embalados todos pelo
som de um Axé Music de raiz! Como companhia duas integrantes da Seleção de Handebol
italiana puxavam papo num portuitalianouol
improvisado, fascinadas pelo Brasil e suas diversidades. Na chegada a ilha,
outra surpresa, os maleiros carregavam as bagagens em carrinhos de mão, pois os
veículos eram proibidos por lá, complementando o ar bucólico do lugar.
Instalado na pousada e recuperado
da travessia a coisa a se fazer era explorar o lugar, investigar suas
possibilidades, sua história e tudo de bom que aquele esplendor poderia oferecer-me
durante aqueles prazerosos dias de sunga e sandália. Enquanto aproveitava o fim
de tarde na beira da praia estirado entre guarda-sóis que abrigavam uma das
maiores concentrações de turistas estrangeiros por metro quadrado do Brasil chamou-me
atenção um animado jogo de vôlei, na quadra de areia, que envolvia não uma, mas
sim várias garotas deslumbrantes, todas loiras, pelas bronzeadas que comunicavam-se
efusivamente numa língua diferente de tudo o que eu havia escutado até então,
acompanhadas num jogo misto com garotos de mesma linhagem. Passei observar tudo
com um interesse quase jornalístico, até o sol baixar e o jogo findar, com seus
players recolhendo-se no entremeio dos casarios da ruela principal.
De volta a
pousada, uma surpresa: todo o belo contingente que roubou a cena do pôr-do-sol na
praia no jogo de vôlei encontrava-se ali, na beira da piscina, aproveitando o momento
para refrescar-se do exercício físico interposto na praia! Sim, hospedados na
pousada estava o grupo, seis mulheres e três homens, noruegueses, entre 22 e 24
anos, formados em direito que - fugindo do clima ártico de seu país -
refugiaram-se no calor brasileiro e trouxeram consigo dois professores orientadores
a tiracolo, onde, durante seis meses, elaborariam suas teses de mestrado,
intercalando períodos de estudo concentrados na pousada e outros de
descontração, curtindo as coisas boas que só a Bahia poderia oferecer! E foi neste contexto que aleatoriamente eu
acabei pousando naqueles dias, no colo daquelas deusas nórdicas loiras
esculturais, de olhos verdes, corpos altos e esguios de anatomia perfeita,
traços lindos e enrustidas de muito sex appeal. Aquelas herdeiras de Odin com
seus lábios carnudos, pele bronzeada, suas cinturas finas e peles sedosas, suas unhas
finamente adereçadas e seus olhares hipnotizantes paralisavam-nos pobres
mortais mundanos.
Não tardamos a nos relacionar,
iniciado já no dia seguinte no vôlei de praia, afinal, desfalcados de um
componente, as duplas masculinas não hesitaram a me incluir nas partidas sempre
acompanhadas de pequeno público evidentemente não motivado pelo interesse na
técnica dos jogadores mas sim - arrisco-me a dizer - pelas propriedades das
charmosas cheerleaders improvisadas a
beira da quadra.
O idioma não foi problema,
mesmo não sabendo norueguês – uma língua extremamente complexa e difícil por
sinal – todos falavam inglês e alguns arranhavam o espanhol, com exceção de um
dos rapazes que já havia feito um intercâmbio no Brasil e razoavelmente
entendia português, o qual serviu-me de interlocutor em momentos de aperto
junto ao grupo.
Pois bem, jogos de vôlei de
praia, banhos de mar e de piscina, bate-papos descontraídos, os dias iam
passando abençoados por aquela beleza radiante emanadas das mestrandas do
Valhalla, até que algo inusitado chamou minha atenção: não havia notado em
nenhum momento a presença de álcool entre o grupo. Nada! Nem sequer uma tradicional
caipirinha, cartão de boas vindas a qualquer estrangeiro recém aportado em nosso
país tupiniquim. Um espanto, afinal, sabe-se que os países nórdicos são
contumazes consumidores de bebidas alcoólicas, por cultura contra o frio e suas
mazelas. Ninguém bebia! O ritual era sempre o mesmo: reuníamos para jantar nos
restaurantes da ilha, eu entre uma taça de vinho e outra, eles e elas entre um
guaraná e outro, e depois de muita conversa e risadas, saíamos todos juntos,
eles de volta a pousada e eu a saciar minha curiosidade pela ilha, numa
daquelas noites inspirados a conhecer as famosas baladas de MSP, iniciadas
sempre muito tarde, já de madrugada. E qual a minha surpresa ao adentrar num
dos estabelecimentos e deparar-me com uma inesquecível visão: embaladas pela
música eletrônica, sob uma mesa, as minhas amigas norueguesas dançando
alucinadamente, acompanhadas de long
necks de cervejas e drinks,
completamente enlouquecidas pela batida observadas por um séquito de marmanjos incrédulos!
O norueguês, meu interlocutor, confidenciou-me que todas as noites elas
protagonizavam o “show”, bebiam até serem carregadas de volta a pousada.
Não demorei a entender, não devia
ser nada fácil olhar-se no espelho diariamente e visualizar tanta perfeição,
pois e afinal de contas, ser uma Deusa Nórdica!
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