Era ali por 92, janeiro, recém
iniciado o ano. Eu e alguns amigos havíamos feito vestibular em dezembro na
UFRGS em cursos bem difíceis – pois o sonho de todo jovem do interior daquela
época era fazer vestibular na UFRGS pelo deslumbre de morar em Porto Alegre, e
o sonho dos pais pelo fato da UFRGS ser pública. O Ferna tentou agronomia, o
Átila, informática, o Grão, odontologia, o Corá, jornalismo e eu medicina. Não
que medicina fosse o que realmente eu queria, mas sim porque impressionava as
gurias nos corredores dos shoppings: “..pois é, tô fazendo vestiba pra
medicina...”.
O fato é que o vestibular em Porto Alegre era como um carimbo no
passaporte para ir pra praia, sozinho, sem pai e mãe, só com os amigos. Como
nenhum de nós teve sucesso no vestibular da federal, fomos tentar algo caseiro
e foi aí que a UNISC – na época FISC - entrou na minha vida e na de várias
outras pessoas. Para eu poder ir para a praia com a galera a condição era
passar no vestibular da FISC. Aí me inscrevi em Economia – tinha 0,6 candidatos
por vaga, uma barbada – cheguei em casa e comentei com minha mãe: “ Taí a
inscrição. Economia”. Minha mãe ao ler o jornal descobriu o logro, rasgou minha
inscrição e disse que eu só iria para a praia se passasse no curso mais difícil:
Direito Noturno, na época 17 candidatos por vaga. Bom, se hoje não exerço a
atividade laboral do direito, a explicação é esta... Passei muito bem
ranqueado, corri para a casa, peguei a mochila – sim, no dia do listão eu
embarquei para a praia – e fui para a rodoviária pegar o busão para Arroio
Teixeira.
E aí começa a história do Rodízio de Pizza... Chegando em Arroio Texas, como era carinhosamente
chamado aquele balneário, alugamos um apartamento de quarto e sala/cozinha para
doze jovens rapazes – intitulados IFC – Independente Futebol Clube - passarem
quinze dias em um perfeito convívio sócio-higiênico-civilizado. A nossa
rotina era desbravar as dunas, atrás de mulheres bonitas e sofisticadas – que
nunca olharam para a nossa cara – bar com cerveja gelada – que um amigo até
hoje está procurando – e muita diversão – futebolzinho na areia, jogo de taco e
machobol (que é uma versão melhorada daquela modalidade que os leitores
conhecem).
Na esquina do prédio onde estávamos iria inaugurar uma pizzaria, com
rodízio e tudo, barato e dentro da nossa pretensão de “encher o bucho”.
Combinamos e às oito e meia estávamos lá, doze garotos – o mais novo com 16 e o
mais velho com 19 anos – numa disputa parelha para saber o que era maior, o
nível de testosterona ou a fome. Começamos a saborear as pizzas, que no início
do rodízio, para impressionar os clientes vinham com bastante cobertura sobre
pedaços enormes. Calabresa, portuguesa, milho, atum, muzzarella... E a gurizada
não recusava nada: um pedaço, dois pedaços, cinco pedaços, a maratona ia longe.
Uma hora comendo, duas horas comendo...Quando a cobertura começou a ficar
destelhada e a pizza quatro queijos virou dois queijos, sentimos o drama:
estávamos somente nós na pizzaria e já era passado da meia-noite. O
proprietário chegou próximo à mesa e comunicou-nos que a massa tinha acabado e
que a pizzaria estava fechando, pois havíamos comido todo o estoque dele. E
mais: no dia seguinte ele não poderia abrir porque era feriado e não tinha onde
comprar os ingredientes para montar as pizzas. Na verdade nem comemos muito. O
Bôca e o Pinha devoraram dezoito enormes pedaços de pizza (isso equivalia a
duas pizzas grandes e meia!!!). Eu só cheguei nos catorze. Mas tomei seis
garrafas de refrigerante e duas águas com gás para compensar!
Foto recente dos membros do IFC |
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