sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O rodízio de pizza!


         Era ali por 92, janeiro, recém iniciado o ano. Eu e alguns amigos havíamos feito vestibular em dezembro na UFRGS em cursos bem difíceis – pois o sonho de todo jovem do interior daquela época era fazer vestibular na UFRGS pelo deslumbre de morar em Porto Alegre, e o sonho dos pais pelo fato da UFRGS ser pública. O Ferna tentou agronomia, o Átila, informática, o Grão, odontologia, o Corá, jornalismo e eu medicina. Não que medicina fosse o que realmente eu queria, mas sim porque impressionava as gurias nos corredores dos shoppings: “..pois é, tô fazendo vestiba pra medicina...”.
 
O fato é que o vestibular em Porto Alegre era como um carimbo no passaporte para ir pra praia, sozinho, sem pai e mãe, só com os amigos. Como nenhum de nós teve sucesso no vestibular da federal, fomos tentar algo caseiro e foi aí que a UNISC – na época FISC - entrou na minha vida e na de várias outras pessoas. Para eu poder ir para a praia com a galera a condição era passar no vestibular da FISC. Aí me inscrevi em Economia – tinha 0,6 candidatos por vaga, uma barbada – cheguei em casa e comentei com minha mãe: “ Taí a inscrição. Economia”. Minha mãe ao ler o jornal descobriu o logro, rasgou minha inscrição e disse que eu só iria para a praia se passasse no curso mais difícil: Direito Noturno, na época 17 candidatos por vaga. Bom, se hoje não exerço a atividade laboral do direito, a explicação é esta... Passei muito bem ranqueado, corri para a casa, peguei a mochila – sim, no dia do listão eu embarquei para a praia – e fui para a rodoviária pegar o busão para Arroio Teixeira.
 
 
E aí começa a história do Rodízio de Pizza... Chegando em Arroio Texas, como era carinhosamente chamado aquele balneário, alugamos um apartamento de quarto e sala/cozinha para doze jovens rapazes – intitulados IFC – Independente Futebol Clube - passarem quinze dias em um perfeito convívio sócio-higiênico-civilizado. A nossa rotina era desbravar as dunas, atrás de mulheres bonitas e sofisticadas – que nunca olharam para a nossa cara – bar com cerveja gelada – que um amigo até hoje está procurando – e muita diversão – futebolzinho na areia, jogo de taco e machobol (que é uma versão melhorada daquela modalidade que os leitores conhecem).
 
Na esquina do prédio onde estávamos iria inaugurar uma pizzaria, com rodízio e tudo, barato e dentro da nossa pretensão de “encher o bucho”. Combinamos e às oito e meia estávamos lá, doze garotos – o mais novo com 16 e o mais velho com 19 anos – numa disputa parelha para saber o que era maior, o nível de testosterona ou a fome. Começamos a saborear as pizzas, que no início do rodízio, para impressionar os clientes vinham com bastante cobertura sobre pedaços enormes. Calabresa, portuguesa, milho, atum, muzzarella... E a gurizada não recusava nada: um pedaço, dois pedaços, cinco pedaços, a maratona ia longe. Uma hora comendo, duas horas comendo...Quando a cobertura começou a ficar destelhada e a pizza quatro queijos virou dois queijos, sentimos o drama: estávamos somente nós na pizzaria e já era passado da meia-noite. O proprietário chegou próximo à mesa e comunicou-nos que a massa tinha acabado e que a pizzaria estava fechando, pois havíamos comido todo o estoque dele. E mais: no dia seguinte ele não poderia abrir porque era feriado e não tinha onde comprar os ingredientes para montar as pizzas. Na verdade nem comemos muito. O Bôca e o Pinha devoraram dezoito enormes pedaços de pizza (isso equivalia a duas pizzas grandes e meia!!!). Eu só cheguei nos catorze. Mas tomei seis garrafas de refrigerante e duas águas com gás para compensar!                             

Foto recente dos membros do IFC

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