O nome do vinho pronuncia-se como
Gê. O projeto de vinhos orgânicos da Santa Emiliana tem como enólogo principal
o grande Álvaro Espinoza - Undurraga, Antiyal, Château Margaux, Moët &
Chandon, Viña Carmen entre outras referências. Talvez, refletindo sobre as
difíceis escolhas durante as minhas recém-férias, o melhor vinho que eu tenha
bebido tenha sido o Emiliana Gê 2003 Reserva Super Premium Orgânico, cuja
história e contexto foram marcantes.
Adquiri este vinho em 2005, numa
ida ao vizinho Uruguai e um de seus free-shops por engano. Não conhecia o
vinho, nunca havia lido nada sobre ele. Pensei em deixar este vinho guardado na
adega para alguma ocasião ímpar. Uns dois anos depois num bate-papo com um
amigo ele comentou sobre um tal vinho orgânico e biodinâmico, fabricado no
Chile, detentor de altíssimas pontuações na crítica especializada… O tal vinho
era o Emiliana Gê! Aí comecei a ler sobre o mesmo onde percebi que a Safra 2003
havia disparado em valores e como tinha sido engarrafado um número limitado de
garrafas as que tinham no mercado ainda encareceram (hoje se adquire em torno
de R$ 450,00 a garrafa).
Bom o fato é que ainda assim
aguardei um momento único para abertura deste assemblage chileno – que na sua
safra referida juntava 55% de Syrah, 15% Cabernet Sauvignon, 15% Carmenére e
15% Merlot – o que veio a ocorrer em junho do ano passado, na noite do dia em
que eu e minha mulher Aline descobrimos que seríamos papais! Com todo o cuidado
que a ocasião merecia abri o excelentíssimo e o deixei cerca de hora e meia no
decanter. Servi-o na taça e por bons segundos fitei-o, pois ali poderia estar
concentrado o sucesso ou o fracasso de minha expectativa de quase 5 anos na
guarda do mesmo. No nariz uma explosão de aromas me empolgou dando vistas que
uma boa surpresa se revelaria. Notas de cassis, frutas vermelhas maduras, café
e chocolate, excelente persistência de aroma, cor rubi magnífica e lágrimas
chorosas, quase tristes por tê-lo tirado daquela pesada garrafa por onde se
alojou por vários anos. E sem qualquer vestígio de idade na coloração, nenhum
reflexo alaranjado sequer, ou seja, um vinho de boa perspectiva de guarda, mas
abortada ali, naquele contexto de um futuro nascimento. Seus 15% de álcool
passaram desapercebidos e o que sentia era um vinho direto, marcante, com uma
jovialidade presente mas muito complexo nos aromas. Poderoso e de forte
personalidade. Na boca um vinho esplêndido, elegante, taninos macios, com muita
estrutura e complexidade, agradabilíssimo de beber. Realmente, superou e muito
a expectativa criada, e elenco-o como um dos 3 melhores vinhos que já bebi, e
com o contexto que envolveu a sua abertura então.
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