Em 2012 tive a satisfação de
visitar duas vezes o Uruguai, sua capital Montevidéu e a charmosa Punta del
Este. Em junho fiz a cobertura do Festival Tannat & Cordero e em outubro
fui ao Punta del Este Food & Wine. Em ambas visitas chamou-me deveras
atenção a cordialidade e educação diferenciada do povo uruguaio além da paixão
que nutrem pelo seu país e pelo que lá produzem. Nestas andanças pude provar muitos vinhos, conhecer
muitas bodegas e me deliciar com diversos pratos e preparos. Em especial, apenas
uma bodegas visitei duas vezes em minha jornada: a Bodegas Carrau.
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Tradição de 260 anos é a marca desta vinícola uruguaia |
A Carrau está localizada no
distrito de Colon, em Canelones, Montevidéu, e possui vinhedos em Las Violetas e também em Cerro Chapéu, em Rivera, na
divisa com o Brasil. Com cerca de
100 hectares de vinhedos, de diversas castas cultivadas, engarrafando cerca de
1,2 milhão de litros de vinho/ano, é uma das mais conhecidas bodegas cisplatinas. Mais uma área de 60 hectares foi adquirida
no lado brasileiro, em Santana do Livramento, cujos primeiros vinhos poderão
ser degustados num futuro próximo.
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Com uma linha que vai de espumantes a vinhos licorosos, a Carrau é uma das principais bodegas daquele país |
É uma das mais antigas vinícolas uruguaias,
com 260 anos de eno-história. Meu guia não poderia ter sido melhor escolhido, o
brilhante jornalista e sommelier uruguaio, Daniel Arraspide, amigo de longa
data, que se encarregou das apresentações. Na visita e degustação feita tive a satisfação
de ser acompanhado de sua cordial e elegante diretora Margarita Carrau, a qual
apresentou-me praticamente toda a linha de vinhos, além de ter compartilhado de
sua mesa num delicioso almoço de carne de vitela ao forno. Também conheci os
demais proprietários, sr Javier Carrau e sr Francisco Carrau, este o enólogo
responsável por boa parte das criações envasadas, todos compondo a 9ª. geração
da família produtora.
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O tannat é a casta mais emblemática |
Um de seus vinhos elegi como
Melhor Branco Estrangeiro do ano passado, em minha tradicional
Enorretrospectiva (http://www.eu-gourmet.com/2012/12/retrospectiva-2012-enogastronomica.html), o excelente Sauvignon Blanc 2012 o qual recebi das mãos de
Margarita recém saído da rotulagem em junho.
A Carrau impressiona pela sua
tradição, afinal, completar quase 3 séculos produzindo vinhos de qualidade,
premiados e sucesso de crítica e vendas não é tarefa para aventureiros ou para
quem acha que entende de vinhos. É uma vinícola legítima, de caráter e
honradez, o que traduz seus rótulos e o que entrega dentro da garrafa. Além disso é pioneira na exploração e cultivo de novas castas, como a Salsão, a Petit Manseng, o Sauvignon Gris, e da técnica elaborativa "Sur Lie" ou seja, durante e após a fermentação é formado um residual de células de leveduras e eventualmente cascas de uva o que chamamos de borras. Normalmente os vinhos ficam com pouco contato com esses resíduos, sendo logo filtrados. Nos casos dos vinhos Sur Lie, eles são deixados em contato com estas borras (lie em francês) durante um tempo maior, sendo regularmente “mexido” o que os técnicos chamam de bâtonnage. Com este período de tempo Sur Lie (sobre as borras), que pode ser de vários meses dependendo do que o enólogo tem de objetivo, se pretende que o vinho ganhe complexidade, sabor e corpo. Tradicionalmente este processo Sur Lie é aplicado somente em vinhos brancos.
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O selo comemorativo aos 260 anos estampa as garrafas e a bodega |
Na primeira visita, em junho,
pude degustar castas diferentes, este era o intuito, entre os quais além do
Sauvignon Blanc referido, o Petit Verdot 2011, o Ysern Tannat-Tannat 2005 e o
Vivent de Tannat 2008.
Juan Carrau Sauvignon Blanc
2012 – cor palha, aroma frutado trazendo frutas tropicais como maracujá, manga,
abacaxi. Boca levemente frisante, mas muito jovem, fresco, mineral e com ótima
acidez. Repete as frutas e contribui o mel.
Petit Verdot 2011 – 3 meses em
“sur lie”. Cor rubi violeta, nariz tradicional com framboesa, amora, ciruela,
tutti-frutti. Boca levemente picante mas equilibradíssimo e saboroso.
Ysern Tannat-Tannat Gran
Reserva 2005 - aroma herbáceo e úmido,
ainda fechado, boca potente, frutado, com muita personalidade e vigor. Um vinho
de guarda excepcional.
Vivent de Tannat 2008 – vinho
fortificado, sobremesa, ideal na companhia de um charuto.
Na segunda visita, em outubro,
acompanhado de um seleto grupo de jornalistas e críticos sulamericanos, pude
provar outros rótulos apresentados por Francisco Carrau, o 1752 Petit Manseng e
Sauvignon Gris 2010, o Pinot Noir de Reserva 2011, o Tannat de Reserva 2010, o
Ysern Tannat-Tannat 2007 e dois medalhões: o Vilasar Nebbiolo 1999 e a primeira
edição do Amat, safra 1998.
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Francisco Carrau demonstrando as leveduras do espumante |
Pinot Noir de Reserva 2011 –
coloração rubi, límpido e brilhante, aromas de frutas vermelhas e negras, estas
maduras e alguma especiaria. Ótimo de boca, com acidez, álcool e taninos
equilibrados.
Tannat de Reserva 2010 – outro
exemplar muito equilibrado, este tannat mais domesticado, trouxe frutos
vermelhos – cereja, azedinha, tabaco, chocolate, couro e leve tostado. Na boca,
um vinho fácil de beber, musculoso sem perder a sensibilidade.
Vilasar Nebbiolo 1999 – 90%
nebbiolo com 10% de marzemino, um vinho uruguaio surpreendente, com muito aroma
de amoras, framboesas, mirtilo, especiarias e baunilha. Na boca um vinho de personalidade, acidez na
medida que pede um acompanhamento gastronômico, fresco e persistente.
Amat 1998 – o grande ícone da
casa, esta safra então, mostrou o grande potencial de guarda dos bons tannats
uruguaios. De cor rubi profundo e quase turvo, trouxe aromas de frutos vermelhos,
especiarias, pimenta, tabaco e muita complexidade. Na boca muito equilibrado,
taninos potentes mas suaves, fruta repetindo o nariz, amaciado pelos 18 meses de
estágio em carvalho. Um dos melhores tintos que bebei em 2012!
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Um belíssimo vinho branco com castas incomuns |
A Bodegas Carrau e seu extenso
leque de linhas e castas traduz a excelência do serviço que uma vinícola pode
prestar ao mundo do vinho!
Confira todos os detalhes
acessando o site da vinícola: www.bodegascarrau.com
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Margarita Carrau e este colunista |
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Clima bucólico e charmoso |
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A terra do Tannat |
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Trabalho minucioso na rotulagem |
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Francisco Carrau passando o seu conhecimento e paixão pelo que faz |
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Os diferentes solos de Cerro Chapéu e Las Violetas |
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Uma marca que se confunde com a história |
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Vitela ao Forno, belos vinhos e ótima companhia |
Bem legal sua postagem sobre a vinícola.
ResponderExcluirNo uruguai visitei apenas a Bouza e a Juanicó, achei bem interessante.
Aliás, recentemente fiz um post no meu blog com uma receita publicada por você - salada grega-, depois dê uma olhada.
Abraço. Parabéns novamente pelo post.
Ótimo que tenha gostado! Também conheci a Bouza e a Juanicó, bodegas lindas e com ótimos vinhos! Muito bom o seu blog, parabéns!
ResponderExcluirContinue interagindo,
Um abraço
Emerson Haas
Qual a melhor forma de chegar às bodegas ? Taxi? Onibus? Transfer?
ResponderExcluirBoa tarde! Por um problema no blogger somente hoje consegui ter acesso aos comentários gerados pois muitos não apareciam em minha página, por isso perdoe-me a falta de resposta. Uber ou transfer.
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