O Brasil tem condições de ter vinhos de guarda?
No ensolarado domingo dia 30
de setembro, em recente visita com colegas jornalistas de todo o Brasil, por
ocasião da XX Avaliação Nacional de Vinhos, a belíssima e encantadora Vinícola
Dal Pizzol, fomos "desafiados" por Dirceu Scotta, enólogo da casa, a
degustarmos um dos vinhos mais antigos da Enoteca da vinícola que guarda
preciosidades desde a sua fundação: um Cabernet Sauvignon safra 1985. Todos se
entreolharam desconfiados e curiosos a responderem uma pergunta: será que há
condições de termos vinho de guarda no Brasil?
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As duas garrafas do cabernet sauvignon 1985 |
Acompanhados do sr Antônio Dal
Pizzol fomos até a cantina bebericar um ótimo espumante brut rosé e alguns
rótulos da casa. As duas garrafas do CS 1985 - sim, não foi uma, mas duas
garrafas - acordavam de seu sono dentro do decanter, arejando e voltando a
vida, depois de 27 anos de sono profundo!
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A mostra de uma ótima estrutura ainda em taça |
Com todo o cuidado, Dirceu
serviu-nos após o almoço, taça a taça sob olhar incrédulo do grupo. Logo se
percebeu um vinho ainda muito límpido, brilhante, cor rubi com halo atijolado,
lágrimas rápidas e médias. No nariz, por incrível, ainda percebia-se o frutado,
claro, já trazendo frutas vermelhas maceradas, maduras, passadas. A madeira
estava bem presente - hoje em dia a vinícola não passa nenhum de seus vinhos
pela madeira, mas lá naquela época usava grapia revestida como reservatório de
seus primeiros vinhos - e ainda algumas especiarias, pimenta e marsala sopravam
ao nariz assim como compota de frutas. Ao provar, em boca já não apresentava
mais a acidez e taninos, pois a idade já os tinha levado. A madeira
apresentou-se novamente, alguma fruta passada também, pouco de herbáceo e tímido
balsâmico, mas ainda percebia-se corpo e estrutura. Ou seja, para nossa
surpresa, um vinho absolutamente bebível, macio e agradável!
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O rótulo se foi, mas o vinho continuou! |
A conclusão praticamente foi
unânime, pois se naquela época, com a expertise disponível 30 anos atrás,
ainda com o conhecimento na elaboração dos vinhos e o entendimento do terroir
engatinhando, e mais, com pouquíssima tecnologia produtiva, tivemos como
resultado um vinho, que segundo o colega Álvaro Galvão, se tivesse rótulo francês
ou italiano levantaria reverberantes aplausos. Com tanto conteúdo, imagine os
vinhos da década passada, safra 2005 por exemplo, a serem bebidos daqui há
vinte e poucos anos, evidentemente que com todo o know-how adquirido e de se
esperar apenas uma resposta: sim, o Brasil pode ter vinhos de guarda!
E fica registrado os meus
saudosos parabéns a Dal Pizzol, ao senhor Antônio, por guardar engarrafada a
memória de sua vinícola!
A Dal Pizzol:
Localizada no distrito de Faria
Lemos, distante cerca de 13 km do centro de Bento Gonçalves, na estrada que
leva ao município de Cotiporã, a Vinicola Dal Pizzol surge encravada entre os
morros, no alto do vale. De imediato chama a atenção o belíssimo lugar, todo
gramado, recheado de construções rústicas e ornamentado com equipamentos
históricos ligados a produção vinícola. Também é possível encontrar pavões,
gansos, cisnes, coelhos e inúmeros pássaros pela propriedade, contribuindo para
a ambientação lúdica.
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Centenas de garrafas com boa idade descansam na Enoteca |
O ponto alto é a Enoteca da vinícola, que acomoda em seu
interior centenas de rótulos muito antigos alguns ainda datados da primeira
safra, como um Cabernet Franc 1978. Outro projeto que chama muito a atenção é o
intitulado Vinhos do Mundo, um
cultivar composto por mais de 160 varietais de 23 países. Todos estes vinhos
serão engarrafados e experimentados na busca de novas opções produtivas.
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A vinícola produz um ótimo moscatel |
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Cabernet Franc 1978 - o vovô da adega! |
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O Projeto Vinhos do Mundo |
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160 varietais de 23 países |
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Até mesmo o enlace da videira com a guia sugere ares bucólicos! |
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Pausa para o espumante! |
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A bela propriedade |
E lembre-se: se beber, NÃO DIRIJA!
Emerson, minha única dúvida é quanto à madeira, pois fermentou na grapia, depois, garrafa pelo que entendi, mas comungo da opinião, estava muito bom ainda, apesar dos 27 anos de idade
ResponderExcluirAbraços de luz
Álvaro Cézar Galvão
Realmente Álvaro, ótima percepção a sua! Belo espécime, belos vinhos, bela vinícola, belíssima companhia! Abraços
ResponderExcluirPrezado Emerson, é sempre bom ouvir noticias sobre vinhos brasileiros de qualidade. Porém, quero fazer um adendo, grandes críticos e enologos rejeitados, porque defendem vinhos não mercadológicos, sempre falaram que nosso terroir é para vinho de guarda. Pois bem, ai está a prova.
ResponderExcluirAbraços
primusvinho.blogspot.com.br
Pedro, com certeza guardados em muitas adegas, devemos ter alguns belíssimos vinhos, muitos provenientes da obstinação destes mesmos enólogos!!!
ResponderExcluirAbraço caríssimo!
Att
Emerson Haas