Sou um entusiasta das sobras da cozinha! Meus olhos brilham e a cabeça ferve quando vejo na geladeira ou no compartimento de verduras e legumes restos não aproveitados na preparação de um prato. Tudo é motivo para a criatividade desabrochar estimulando a inovação e o bolso! Restos de alimentos – que não precisa ser pré-preparado, mas sim talos, sementes, ossos, grãos e folhas – podem dar vezes a variados e inúmeros preparos e novas receitas.
Historicamente tradicionais pratos de nossa culinária e da culinária internacional foram criados através de sobras de alimentos. A feijoada, um dos pratos mais famosos de nossa gastronomia tupiniquim, originou-se pelas mãos dos escravos africanos, pois na época da escravidão, os senhores de escravos não comiam as partes menos nobres do porco, como orelhas, rabos ou pés, e davam tais partes aos seus escravos que aproveitavam tudo num misturado com feijão, em panelões de ferro fundido nos braseiros das senzalas.
Os hermanos argentinos e uruguaios exportam para todo o mundo a sua carne excepcional e junto a ele o preparo destas carnes na brasa, sobre a parilla, na qual a parillada preparada pelo gaucho no campo aproveitava as partes desprestigiadas no abate para assá-las somente com sal e saciar a sua fome construída a partir da lida com o gado.
Já as panquecas – tão conhecidas pelas variadas classes sociais – de origem francesa e muito antiga, pois tem mais de nove mil anos - e o hábito de comê-las difundiu-se muito rapidamente pela Europa durante a segunda grande guerra, pois era barata, fácil, nutritiva e aceitava todo o tipo de recheio possível, inclusive o de carnes cozidas, vegetais, queijos e doces.
O fondue nem sempre teve o glamour da modernidade, pois é um prato de origem suíça feito à base de queijo ou chocolate foi também criado durante a Segunda Guerra Mundial, em meio ao rigoroso inverno suíço.
Os camponeses que moravam em regiões montanhosas não tinham como buscar mantimentos nas cidades. Assim, começaram a utilizar o queijo (já que eram produtores de leite) como principal ingrediente de uma comida que fosse quente, simples, saborosa e nutritiva. O queijo ficava no fogo e cada camponês mergulhava pedaços de pão dormido no creme de queijo derretido. Ganhou status na década de 50, após o chefe Conrad Egli, de Nova York, o ter criado para servir de sobremesa.
E a paella? Ela surgiu como alimento dos camponeses, nos séculos XV e XVI, quando saíam para o trabalho rural, levando arroz, óleo de oliva e sal, além do recipiente para cozinhar: uma panela redonda com alças, ampla e rasa chamada de "paella". Lá colocavam tudo o que tinham de disponível naquele dia, que poderia ser hortaliças recém colhidas, carnes, frutos do mar, restos de legumes e verduras e caças.
Portanto, não desperdice os restos de alimentos em sua casa – por sinal responsáveis por quase 50% do lixo que recolhemos diariamente – use a imaginação e crie pratos saborosos, pois além de uma terapia você estará poupando o meio ambiente e também o seu orçamento!
Artigo publicado no jornal Gazeta do Sul de hoje.
Minha nossa, que coincidência, acabei de postar uma receita de sobras de bacalhau (confira no www.vinhoseviagens.com.br). Vc tem toda razão. òtima matéria. parabéns. abraços, Rodrigo
ResponderExcluirRodrigo, excelente o teu material!
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