quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Por quê os temperos não crescem?

Do quinto andar o horizonte se distancia. Pés no chão, improvável. A horta aparece num pequeno canteiro penteada pelo vento forte que dobra arrogantemente o tapete verde mas repele-se no vidro da janela, pretensioso e curioso, espiando para dentro o destino de quem assiste de fora. O calor daquela relação fazia abrir um sorriso largo até o canto do olho procurando lá na íris um pouco de saudade. Saudade que lateja forte rachando o invólucro de serenidade do sentimento por deveras escondido, cabisbaixo e contemplativo. O tempo é outro. A estação mudou e a rádio toca uma música diferente. O vinho que serve a taça esbalda-se em sua própria solidão. O brinde deu lugar a um copo único. No início a única coisa que os separava além das taças de vinho, tinto, encorpado - como uma paixão deve ter por adjetivo - eram suas diferenças inquisidoras. E, no adormecer das louças, a fome satisfeita dava lugar ao desejo pulsante que se abria em preâmbulo para a imensidão de sensações que aleatoriamente se punham em rompante cavoucando mais e profundamente na direção do que poderia ser tido como o sabor supremo, absoluto e imutável ao tempo. E a história que este livro estava disposto a contar contentaria a ambos. Bom, tudo são temperos e eles são capazes de juntar sabores disformes e deixar o amargo mais doce e o cítrico quase básico, na alquimia que só mesmo um tempero sabe dar a vida. E os sabores dos pratos de puro êxtase envolvia-os na relação que de tão boa sucumbiu em final. Foram-se os momentos vividos no seu estado cru, puro, cristalino. Entende o que estou falando? Cozinha sem receita. Uísque sem gelo. Amor inconstestável. Paixão indelegável.


Tempos outros
Pensamento longe
Buffet de festa
Come-se e se vai
O que fica?
Temperos
Saudade!
Saudade de quem se foi...
Imaginário

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