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domingo, 29 de janeiro de 2012
Os carreteiros do São Judas Tadeu
No início dos anos 90 eu trabalhava numa construtora praticamente no centro da cidade. Era recém estudante de direito, no auge dos meus 18 anos e, através de um colega, acabei conhecendo o pessoal da redação da Gazeta do Sul e fui convidado a escrever crônicas quinzenais no jornal. E uma boa parte dos integrantes da redação moravam num prédio bem defronte a tal construtora, no São Judas Tadeu. Ali, no apartamento térreo de três quartos, residiam o Mauro Ullrich, o Romar Beling, o Otto Tesche e o Gilson da Rosa, todos redatores do jornal, cada qual numa área. E neste apartamento recheado de cadeiras de praia, beliche, colchão no chão e uma cozinha composta pelo fogão velho presente da tia de um deles, a geladeira de porta enferrujada com uma borracha vedando-a, um armário pia onde se alojava apenas uma panela e uma chaleira, além de meia dúzia de pratos e copos Duralex, rolavam inesquecíveis normoses cotidianas, recheadas de humor e receitas saborosas. Nesta cozinha quase todos os dias tinha almoço preparado em maior quantidade para sobrar de janta também. E o prato mais aguardado era o carreteiro de linguiça do Otto, não sei se pelo sabor ou por ser um dos poucos que ele sabia preparar! O Otto saía correndo da redação antes dos demais para preparar o almoço, passava no armazém ali pertinho, catava cebola, tomate e vez em quando alguma folha verde que era vista com olhos tortos do Gilson, não muito chegado neste lance natureba.
A linguiça o Romar trazia da casa dos pais e, sustentava dia sim dia não, o cardápio da trupe. De Cachoeira do Sul, o Mauro trazia o arroz, agulinha tipo 2, semi quebradiço que, segundo ele, era melhor para liberar o amido e dar “sustância” na receita. E eu, como trabalhava no prédio vizinho, pulava a janela do São Judas e almoçava muitas vezes com a gurizada. Como ninguém tinha grana, o apartamento alugado não possuía quase nada de mobília, comíamos com o prato no colo, sentados no chão de carpete velho e rasgado, encostados nas paredes. Ali, o almoço virava um parque de diversões e as adversidades da vida de cada um davam lugar as histórias engraçadas dos tempos de moleque contadas pelo Maurão; aos comentários de bandas e músicas do music a holik Gilson; aos bate-papos cheios de filosofia incitados pelo cozinheiro-mor e as tiradas do Romar, cheias de espiritualidade. Eu, o mais novo do grupo, acabava por ser o observador, o aprendiz de todo aquele conteúdo cultural proveniente daquelas mentes brilhantes sustentadas pelo saudoso e agregador carreteiro do Otto!
Acompanhe a preparação do saudoso carreteiro:
Ingredientes:
(para 4 pessoas)
Duas xícaras de arroz
Duas colheres de óleo de canola ou girassol
Três gomos de lingüiça sequinha
Dois dentes de alho picados
Uma cebola grande picada
Sal e pimenta à gosto
Meia xícara de salsinha e cebolinha verde picada
Uma colher de açúcar
Preparo:
Em uma panela de ferro aquecer o óleo de canola e fritar a lingüiça já cortadinha em fatias e sem pele por cerca de 3 minutos. Juntar o alho, a cebola e o açúcar e refogar até dourar. Adicionar o arroz e refogar rapidamente. Completar com água – 4 xícaras de água fervente – e temperar com sal e pimenta e deixar cozinhar por cerca de vinte minutos com a panela semi-tampada. Juntar o temperinho verde e servir em seguida.
Artigo publicado no Jornal Gazeta do Sul.
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