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domingo, 22 de janeiro de 2012
Degustando um vinho de 85 anos: Merler Jung-Gretel safra 1927
Num dos encontros da Confraria do Sagu do ano passado, recebemos como convidado especial o caríssimo Eduardo Pochmann, médico que doou a confraria um de seus bens mais emblemáticos: um exemplar do vinho Merler Jung-Gretel safra 1927 de Friederich Winestate. Isto mesmo: de 1927! Tal preciosidade foi servida no casamento do avô paterno – sr José Benno Pochmann – em 1929. Na ocasião o sogro dele que era comerciante, importou o vinho. Sobrou uma caixa que foi guardada como lembrança, e no leito de morte em 1989 o avô repassou a cada neto uma garrafa do vinho referido. Desde lá a garrafa ocupava um lugar na adega de Eduardo que num belo gesto se reuniu a nós para abrirmos o antigo rótulo. E foi o vinho mais antigo que já provamos na Confraria. Talvez tenha sido o vinho mais antigo provado no Estado neste ano que passou, e tal evento marcou cada um dos presentes pois a abertura da garrafa trouxe uma inevitável surpresa.
Para saber se o vinho alemão estava bebível e qual estado de conservação se encontrava, vejam a análise do colega confrade Luciano Ourique, responsável pelo serviço e revelação do conteúdo do antigo vinho:
“Indubitavelmente este foi o “vinho da noite”. Imaginávamos que, em se tratando de um vinho branco com mais de 80 anos, certamente estaria estragado. Tanto é que deixamos para degustá-lo por último e antes do jantar por questões mais óbvias do que técnicas, ou seja, não estragar nosso paladar com um possível desagradável sabor de oxidação.
Seja qual forem os requisitos técnicos exigidos para justificar a longevidade de um vinho branco, podemos afirmar que este tinha todos! Antes de abrirmos este vinho pensamos que ele “morreria” poucos minutos após ser servido. Os aromas estavam de uma complexidade encantadora com intensas notas de frutas secas (damascos), frutas cristalizadas, mel, nozes torradas, castanhas do Pará e bala mocinho (caramelo e baunilha) brotavam em profusão das taças. Nos aromas de boca as nuances ficaram mais voltadas para as notas de nozes torradas e castanhas do Pará, em detrimento aos demais aromas. Em boca mostrou-se um vinho expressivamente seco, leve e com paladar focado nas mesmas nuances percebidas na via nasal. No que se refere a acidez mostrou discretos toques de oxidação (muito semelhante ao que se percebe em vinhos Jerez ou em vinhos do Porto brancos) que agregaram elegância ao conjunto assim como a coloração se assemelhava muito a um vinho Jerez ou então um vinho branco licoroso, uma cor tendente para um amarelo âmbar. A limpidez foi ficando comprometida a partir da 5ª taça servida em função da borra que se acumulou ao longo dos anos. Com a aeração na própria taça o oxigênio fez o seu trabalho intensificando as notas de oxidação. Enfim, por tudo que o cercou, o elegemos como o “vinho da noite”!”
Este colunista e o benevolente Dr Eduardo Pochmann
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